Disponível em:
http://flitparalisante.wordpress.com/2013/01/16/comandante-geral-da-pm-quer-afastamento-de-policial-envolvido-em-ocorrencia-com-morte/
Acesso em: 17 jan. 2013
16/01/2013
Comandante Geral da PM quer afastamento de policial
envolvido em ocorrência com morte
CmtG da PMESP DIZ QUE PM QUE SE ENVOLVER EM
OCORRENCIA COM MORTE VAI FICAR 3 MESES AFASTADO DAS RUAS
Reinaldo Canato/Diário SP “Vamos acompanhar cada PM
envolvido em morte”
O comandante-geral da PM, coronel Roberto Meira, de
50 anos, quer submeter todo policial envolvido em ocorrências que resultarem em
morte a acompanhamento, por pelo menos três meses, antes de ele retornar às
atividades nas ruas.
“O objetivo não é punir, mas colaborar para a
preservação da saúde do policial, o aprimoramento dos procedimentos padrões e
também para benefício da população. Morte é algo que deve ser levado muito a
sério”, afirma o novo “chefe” da PM paulista, que assumiu o cargo no final de
novembro em meio aos ataques do PCC às forças do Estado e com a ordem de
controlar a corporação.
A intervenção terá três fases. Na primeira, o
policial passará por entrevista psicológica no CAS (Centro de Atendimento
Social) da PM. “Quero entender se o evento morte não causou traumas e se ele
está apto a retornar às mesmas atividades ou precisa ir para outra função.”
No mês seguinte, esse policial terá treinamento de
capacitação, com base nos erros cometidos, para melhorar seu desempenho. “O PM
trabalha sob tensão, com adrenalina a mil e tem de tomar decisões em frações de
segundos. Às vezes ele erra e isso pode custar sua carreira e até sua
liberdade”, diz, citando o exemplo recente ocorrido em Avaré, no interior, onde
um PM baleou por engano um homem que estava com uma “Bíblia” nas mãos e está
preso.
Na terceira fase, o policial visitará uma série de
entidades assistenciais, para conhecer pessoas que passam pelos mais diferentes
tipos de dificuldades e trabalhar com elas. Depois, terá outra avaliação
psicológica antes de retornar às ruas.
INTERVENÇÃO POLICIAL O comandante afirma que a
PM não vai tolerar ações não amparadas em lei. Uma comissão, formada por dois
PMs e dois delegados, analisará todos os casos decorrentes de intervenção
policial e a Corregedoria, que passará a ir nos locais, levará os envolvidos à
delegacia. “A equipe vai questionar cada detalhe da ocorrência. Se houver um
senão vamos pedir a prisão temporária ou preventiva de todos. O policial que
agir dentro da lei não tem com o que se preocupar”, observa.
SOCORRO DE BALEADOS O coronel explica que a
resolução da Secretaria da Segurança Pública, proibindo PMs de socorrer
baleados, foi feita com o aval de três chefes de polícia (PM, Civil e
Científica). “É um protocolo institucionalizado no mundo todo e aqui já é feito
no trânsito. Ele legitima a ação do PM, a deixa mais transparente e evita
sequelas nos feridos. Não temos PMs com treinamento de paramédico e já vi muita
gente ficar paraplégica ou mesmo tetraplégica por ter sido socorrida de
maneira errada”, comenta. Segundo o coronel, a estimativa de chegada ao local
de atendimento das equipes do resgate do Corpo de Bombeiros é de 18 minutos e,
do Samu, seis. “Agora, se o policial ligar para as unidades e não houver
viatura disponível, é evidente que ele é quem vai socorrer”,
afirma.
MAIS POLICIAMENTO O comandante está fazendo um
levantamento para diagnosticar onde estão distribuídos os PMs, conhecer o
efetivo real de cada unidade e levantar qual é o necessário para a região. A
intenção é realocar o excedente no radiopatrulhamento. Uma outra medida é
repassar novamente para a Secretaria da Administração Penitenciária a
responsabilidade pela escolta de presos e, com isso, colocar na rua os 1,5 mil
PMs hoje encarregados dessa função. “No passado liberamos para o policiamento
quatro mil PMs que faziam a guarda nas muralhas de presídios ao substituí-los
por agentes de segurança penitenciária.”
NOVAS ESCALAS A partir de 1 de fevereiro, todos
os PMs do radiopatrulhamento terão as escalas de trabalho alteradas. Hoje, os
turnos são de 12 por 24 horas (trabalha 12 horas e folga 24 horas) e 12 por 48
horas. Com a mudança, passarão para 12 por 36 horas. “Isso permitirá que eles
trabalhem dia sim, dia não e tenham um final de semana inteiro por mês de
descanso. Também ajudará a fazer justiça, pois no esquema atual a equipe da
noite fica no mesmo horário por 15 dias. Já com o novo sistema terá sete dias
de trabalho diurno e oito noturno em uma quinzena e o inverso no período
seguinte. Isso permitirá ainda que todos possam atuar na Operação Delegada (o
bico oficial).” O comandante afirma que a sua intenção, após a readequação dos
efetivos, é ampliar de quatro para cinco as equipes do radiopatrulhamento, de
modo que os policiais passem a trabalhar em turnos de oito horas.
CRIMINALIDADE O coronel diz que um de seus
maiores desafios é acabar com a sensação de insegurança da população. Para
tanto, encomendou uma ampla pesquisa de opinião para saber o que os paulistas
pensam da PM e o que esperam dela. Com base nesses resultados, promete
aperfeiçoar e melhorar o desempenho da tropa. “Muitas vezes a comunidade clama
por bases comunitárias, com a falsa sensação de que aquilo vai resolver o
problema da criminalidade”, comenta. “Tivemos um ano difícil em 2012, o
envolvimento de PMs em mortes deu a sensação de ataques e, em alguns casos,
houve mesmo, aumentando a insegurança. Os indicadores apontam que a taxa de
homicídios deverá fechar entre 11,5 e 12 por grupo de 100 mil habitantes. Mesmo
assim, ainda é a menor se comparada com a do resto do pais. Isso demonstra que
estamos no caminho certo”, observa.
IMPUNIDADE Roberto Meira defende leis mais
rígidas para ajudar no combate ao crime. “A criminalidade não tem ligações com
a pobreza, mas sim com a impunidade”, afirma. Ele cita o exemplo de Nova
York, onde a taxa de criminalidade caiu para 5,4 homicídios por 100
mil habitantes após a mudança na legislação. “Lá, por exemplo, crimes
praticados contra policiais passaram a ser punidos com mais rigor.”
ROUBOS O roubo é o crime que mais aumenta a
sensação de insegurança, diz, lembrando que a droga é a mola propulsora desse
tipo de ação. “Nas estatísticas da Secretaria da Segurança, no item que se
refere a roubos/outros, 70% dos casos são praticados contra transeuntes e 80%
desse total têm como alvo o celular, cuja liquidez é rápida”, observa. Segundo
o coronel, as estatísticas mostram que a maioria dos autores de roubo são
usuários de droga, pessoas que fumam, em média, de cinco a 12 pedras de crack
por dia e precisam de dinheiro para sustentar o vício.
‘BIQUEIRAS’ O coronel Meira lembra que o Brasil
é o primeiro consumidor de crack do mundo e o segundo em cocaína. “Isso
acontece porque a droga é barata, custa de R$ 5 a R$ 10 a pedra e entra fácil
no país. Se não houver a retenção da droga nas fronteiras, desde o momento em
que ela entra no país, continuaremos enxugando gelo. Cada um tem de fazer a sua
parte. A minha, que é combater as ‘biqueiras’ (pontos de venda), eu
faço.”
DESVIO DE CONDUTA O comandante afirma que a PM
não tolera desvios de conduta na tropa. Segundo diz, os casos de policiais
envolvidos em crimes são pontuais, um percentual pequeno dentro do universo da
Polícia Militar, mas admite que chamam a atenção e denigrem a imagem da corporação.
“Vamos fortalecer a Corregedoria e incentivar a fiscalização, do soldado ao
coronel, um olhando o outro.”
LEI SECA As blitze vão continuar, com maior
intensificação em feriados e fins de semana. “Agora, com multas pesadas e a
caracterização do flagrante de quem dirige embriagado com vídeo e uma
testemunha, ficará mais fácil o combate.”
‘Bico’ oficial será ampliado na capital com novas
atividades A Operação Delegada, também conhecida como “bico
oficial”, será ampliada em São Paulo para permitir que mais PMs
possam participar e aumentar seus rendimentos. A operação, criada
pelo ex-comandante da PM coronel Álvaro Camilo, hoje vereador pelo PSD,
permite que o policial trabalhe fardado e com a arma da corporação em dias de
folga, além de garantir a ele todos os direitos assegurados na
corporação, como, por exemplo, o seguro para a família em caso de morte.
Segundo o coronel Roberto Meira, hoje há 3.898 PMs
participando da operação nas ruas de comércio das 31
subprefeituras. Além de atuar no combate ao crime, reprimem o comércio
irregular. A intenção do prefeito Fernando Haddad (PT), diz o comandante, é
delegar aos policiais outras funções compatíveis com a atividade fim,
como a fiscalização do Psiu em bares e restaurantes e táxis.
A operação permite ao policial aumentar a sua renda
sem abrir mão do descanso e com o aval do comando. Cada PM pode trabalhar
até 80 horas por mês. Por hora, praças e soldados ganham R$ 19,72 e
oficiais, R$ 26,32.
Principais intervenções da Polícia Militar *
números entre janeiro e novembro de 2012
INTERVENÇÕES TOTAL
Atendimentos sociais 2.360.022
Resgate 549.881
Veículos localizados 71.517
Prisões em flagrante 91.075
Atos Infracionais 41.008
Procurados capturados 18.304
Armas apreendidas 11.944
Apreensão entorpecentes 53.224
Fonte: Polícia Militar do Estado de São Paulo.