Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/2012-11-11/medo-de-violencia-faz-maes-tirarem-filhos-de-sao-paulo.html
Acesso em: 11 nov. 2012
Medo de
violência faz mães tirarem filhos de São Paulo
Mortes em
noites violentas causam pânico entre moradoras da região metropolitana, que
dizem sofrer ameaças
Agência
Estado | 11/11/2012 09:59:33
A onda de
violência na periferia de São Paulo mudou radicalmente a vida da faxineira
Maria (nome fictício), de 43 anos. Um de seus filhos, de 17, foi morto em julho
por agentes das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), durante ação em uma
favela na região de Sapopemba, zona leste. Após outro filho ser ameaçado por
policiais e ficar sabendo que teria sido incluído em uma lista de futuras
vítimas, ela mandou o rapaz morar em outra cidade.
A situação
de Maria não é única. Só na zona leste paulistana há pelo menos dez
perseguidos, segundo informações do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da
Pessoa Humana (Condepe).
Futura Press
Policial
atirou contra dois homens na Rua Gaia, em São Mateus (10/11)
A situação
se repete na Região Metropolitana de São Paulo. Há dois meses, o filho mais
velho de Maria, de 24 anos, pegou algumas peças de roupa e saiu de casa na
surdina, no meio da madrugada. Só assim, segundo ela, policiais da Rota pararam
de ir até sua residência para amedrontá-la.
"Já
tinham espancado ele no meio da rua e falado que só não mataram porque tinha
muita gente", afirma Maria. "Depois, eles vinham aqui no meio da
noite, colocavam farol na minha cara e falavam que tinham achado uma moto do
meu filho. Ele ficava escondido e eu falava que ele não tinha moto nenhuma, mas
eles sempre voltavam."
O primeiro
filho foi morto em um barraco, com duas pessoas. Policiais da Rota alegaram que
o trio trocou tiros. Na favela, porém, todos dizem que só os PMs atiraram.
Afirmam que os boinas pretas cumpriram a promessa que fizeram uma semana antes:
matariam a todos se encontrassem gente usando drogas.
Testemunhas
dizem ter visto, depois dos tiros, PMs chegando com uma sacola com armas e
drogas, que depois foram apresentadas como sendo dos mortos.
Ao ver o
carro cinza da Rota pelas ruas da região, Maria fica em pânico. "Não paro
de tremer. Ainda tenho dois filhos pequenos vivendo comigo e tenho medo de
deixá-los sozinhos e eles virem aqui."
Tristeza
Em casa,
Maria tenta preencher o vazio deixado pelo filho mais novo assistindo a um DVD
com fotos dele, feito pela namorada. "Podia ser tudo mentira. Aquele corpo
ser um boneco de cera e ele aparecer no carro da reportagem de vocês",
suspira, emocionada.
A educadora
Sônia (nome fictício), de 42 anos, também relata perseguição por parte de PMs
da Rota. Segundo ela, o filho já foi detido por tráfico de drogas, mas hoje
trabalha como motorista e não teria dado nenhum motivo para ser procurado por
policiais. "Abordaram o vizinho e disseram para ele que meu filho estava
em uma lista. Depois, ficaram rondando a minha casa", relata Sônia.
"Tentei convencê-lo a sair de casa, mas meu filho diz que não deve e que
vai ficar."
A
conselheira do Condepe Cheila Ollala acompanha a situação de várias pessoas que
estão sendo perseguidas pela polícia, assim como os filhos de Maria e de Sônia.
"Temos outro caso de um menino que teve de sair da cidade pelo mesmo
motivo", diz, sem dar detalhes sobre a vítima. O critério para entrar na
tal lista da morte seria ter no histórico pessoal qualquer problema com a
Justiça.
O advogado
Ariel de Castro Alves, vice-presidente da Comissão Nacional da Criança e do
Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), diz que foi procurado por
mães da região do ABC paulista. "A perseguição de pessoas por parte de
policiais, simplesmente porque têm antecedentes criminais, pode configurar os
crimes de abuso de autoridade e ameaça", diz.
A PM afirma
que as denúncias são graves e pede para que as vítimas se apresentem à sede da
Corregedoria para prestar queixa.
As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo