22 de abr. de 2013

São Paulo deixa PM com a pior assistência iG Paulista



São Paulo deixa PM com a pior assistência
iG Paulista - 19/04/2013 23h39
Luciana Félix | luciana.felix@rac.com.br



Entre os sete estados das regiões Sul e Sudeste do Brasil, São Paulo é o que oferece as piores condições de assistência médica para os policiais militares e seus familiares. O governo paulista não disponibiliza plano de saúde nem rede credenciada de clínicas e hospitais nos municípios para atender os 94 mil PMs e os cerca de 300 mil membros de suas famílias.


A única coisa que o Estado mais rico e desenvolvido da federação mantém é um hospital, na Capital, para casos mais graves e apenas para os policiais. Na contramão do descaso, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais, por exemplo, oferecem planos de saúde para todo o efetivo policial, independentemente da cidade em que eles atuam, além de estender a assistência para seus familiares.

O Rio de Janeiro, assim como São Paulo, não possui o plano de saúde para os PMs. Porém, o Estado mantém uma ampla rede de atendimento médico, com policlínicas e hospitais credenciados em todos os municípios para atender os policiais e suas famílias, além de dois hospitais próprios da corporação.

No Espírito Santo, os policiais e seus familiares que precisam de atendimento são removidos de helicóptero até um hospital militar que fica em Vitória, a capital.

A falta de uma assistência ampla e efetiva é alvo de críticas de policiais, especialistas da área e cientistas políticos consultados pela reportagem. Eles defendem uma mudança urgente dessa prática e dizem que essa falta de benefícios básicos pode acarretar em queda de produtividade dos trabalhadores, que podem perder o foco de suas atividades por conta de problemas de saúde e até mesmo por receio. E, no caso de um PM, um desempenho ineficaz tem consequências graves: a perda do poder de enfrentamento do crime, em um momento em que os índices demonstram uma aceleração da violência no Estado, e até o risco maior de morte durante uma operação.

“É uma vergonha o Estado de São Paulo não oferecer uma assistência médica decente para esses homens e mulheres que lidam com situações de extremo risco. Isso é inadmissível”, afirmou o cientista político e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Valeriano Costa.

Para ele a falta de uma assistência eficaz e ágil acaba sendo fator desmotivador para a atividade profissional. “O mais estranho é que o Estado é o mais rico do País. Essa deficiência causa enorme insegurança e está conectada à questão da violência. O policial precisa ser apoiado e ter confiança que vai arriscar sua vida, mas está seguro com uma assistência que funcione. E não é só questão de enfrentamento de bandido e tiro, ele tem alto risco de sofrer acidentes na sua atividade.”

O Estado tem se recusado, sistematicamente, a responder qualquer pergunta sobre o assunto. O primeiro questionamento foi feito no dia 4 de abril, junto à Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP), que informou, por meio de e-mail, que não iria se pronunciar sobre o assunto, e que a assessoria da PM poderia responder. Desde então a reportagem tem procurado a assessoria de comunicação da PM, com pedido de entrevista ou declaração de alguma autoridade sobre o assunto, mas nada foi respondido até agora.

A advogada e professora de direito do trabalhador da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-São Paulo) Carla Teresa Martins Romar também defende a revisão do atual cenário. “Os policiais vivem em constante risco, e sob estresse. É preciso que tenham atendimento em suas cidades, próximo de suas famílias. O Estado tem que rever isso. É comprovado que benefício é fator motivacional para os trabalhadores.”

Como funciona em SP

Os batalhões de polícia do Estado possuem um oficial médico que atende todo o grupamento do setor de forma básica. Mas, quando ocorrem casos graves, o policial tem que ser atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e depois é transferido para o hospital da corporação, o Centro Médico da Polícia Militar, em São Paulo. Porém, o hospital não atende os familiares. O único serviço disponibilizado para os familiares é chamado de Caixa Beneficente da Polícia Militar (CBPM), que é descontado da folha de pagamento (2%) do policial, e assim parentes podem utilizar o serviço do Hospital Cruz Azul. Mas, assim como o hospital militar, fica em São Paulo.

“E como faz com o policial que mora longe da capital? É um absurdo, ele tem que custear a ida até lá. E se tiver passando mal com o filho de madrugada? E os policiais que estão em tratamento que ficam longe das famílias. Nem leito para acompanhante tem. São muitos casos em que isso acontece e somos constantemente procurados por policiais que precisam de ajuda por causa dessa falha”, afirmou Adriana Borgo, presidente da Comissão dos Direitos Humanos dos Policiais de São Paulo (Afapesp).

Secretaria silencia

A reportagem tem aguardado a resposta das autoridades estaduais sobre a falta de assistência aos policiais desde 4 de abril, quando entrou em contato pela primeira vez com a assessoria da PM, em São Paulo, e com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP). No dia seguinte, após ser cobrada a SSP informou por e-mail enviado pela assessoria de imprensa que não iria comentar o tema e que a resposta deveria ser obtida pela assessoria da PM. Mesmo após novas cobranças da reportagem, ninguém se manifestou.