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Acesso em: 21 abr. 2013
São Paulo
deixa PM com a pior assistência
iG Paulista
- 19/04/2013 23h39
Luciana
Félix | luciana.felix@rac.com.br
Entre os
sete estados das regiões Sul e Sudeste do Brasil, São Paulo é o que oferece as
piores condições de assistência médica para os policiais militares e seus
familiares. O governo paulista não disponibiliza plano de saúde nem rede
credenciada de clínicas e hospitais nos municípios para atender os 94 mil PMs e
os cerca de 300 mil membros de suas famílias.
A única
coisa que o Estado mais rico e desenvolvido da federação mantém é um hospital,
na Capital, para casos mais graves e apenas para os policiais. Na contramão do
descaso, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais, por exemplo,
oferecem planos de saúde para todo o efetivo policial, independentemente da
cidade em que eles atuam, além de estender a assistência para seus familiares.
O Rio de
Janeiro, assim como São Paulo, não possui o plano de saúde para os PMs. Porém,
o Estado mantém uma ampla rede de atendimento médico, com policlínicas e
hospitais credenciados em todos os municípios para atender os policiais e suas
famílias, além de dois hospitais próprios da corporação.
No Espírito
Santo, os policiais e seus familiares que precisam de atendimento são removidos
de helicóptero até um hospital militar que fica em Vitória, a capital.
A falta de
uma assistência ampla e efetiva é alvo de críticas de policiais, especialistas
da área e cientistas políticos consultados pela reportagem. Eles defendem uma
mudança urgente dessa prática e dizem que essa falta de benefícios básicos pode
acarretar em queda de produtividade dos trabalhadores, que podem perder o foco
de suas atividades por conta de problemas de saúde e até mesmo por receio. E,
no caso de um PM, um desempenho ineficaz tem consequências graves: a perda do
poder de enfrentamento do crime, em um momento em que os índices demonstram uma
aceleração da violência no Estado, e até o risco maior de morte durante uma
operação.
“É uma
vergonha o Estado de São Paulo não oferecer uma assistência médica decente para
esses homens e mulheres que lidam com situações de extremo risco. Isso é
inadmissível”, afirmou o cientista político e professor do Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Valeriano Costa.
Para ele a
falta de uma assistência eficaz e ágil acaba sendo fator desmotivador para a
atividade profissional. “O mais estranho é que o Estado é o mais rico do País.
Essa deficiência causa enorme insegurança e está conectada à questão da
violência. O policial precisa ser apoiado e ter confiança que vai arriscar sua
vida, mas está seguro com uma assistência que funcione. E não é só questão de
enfrentamento de bandido e tiro, ele tem alto risco de sofrer acidentes na sua
atividade.”
O Estado
tem se recusado, sistematicamente, a responder qualquer pergunta sobre o
assunto. O primeiro questionamento foi feito no dia 4 de abril, junto à
Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP), que informou, por meio de
e-mail, que não iria se pronunciar sobre o assunto, e que a assessoria da PM
poderia responder. Desde então a reportagem tem procurado a assessoria de
comunicação da PM, com pedido de entrevista ou declaração de alguma autoridade
sobre o assunto, mas nada foi respondido até agora.
A advogada
e professora de direito do trabalhador da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-São Paulo) Carla Teresa Martins Romar também defende a revisão
do atual cenário. “Os policiais vivem em constante risco, e sob estresse. É
preciso que tenham atendimento em suas cidades, próximo de suas famílias. O
Estado tem que rever isso. É comprovado que benefício é fator motivacional para
os trabalhadores.”
Como
funciona em SP
Os
batalhões de polícia do Estado possuem um oficial médico que atende todo o
grupamento do setor de forma básica. Mas, quando ocorrem casos graves, o
policial tem que ser atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e depois é
transferido para o hospital da corporação, o Centro Médico da Polícia Militar,
em São Paulo. Porém, o hospital não atende os familiares. O único serviço
disponibilizado para os familiares é chamado de Caixa Beneficente da Polícia
Militar (CBPM), que é descontado da folha de pagamento (2%) do policial, e
assim parentes podem utilizar o serviço do Hospital Cruz Azul. Mas, assim como
o hospital militar, fica em São Paulo.
“E como faz
com o policial que mora longe da capital? É um absurdo, ele tem que custear a
ida até lá. E se tiver passando mal com o filho de madrugada? E os policiais
que estão em tratamento que ficam longe das famílias. Nem leito para
acompanhante tem. São muitos casos em que isso acontece e somos constantemente
procurados por policiais que precisam de ajuda por causa dessa falha”, afirmou
Adriana Borgo, presidente da Comissão dos Direitos Humanos dos Policiais de São
Paulo (Afapesp).
Secretaria
silencia
A
reportagem tem aguardado a resposta das autoridades estaduais sobre a falta de
assistência aos policiais desde 4 de abril, quando entrou em contato pela
primeira vez com a assessoria da PM, em São Paulo, e com a Secretaria de Estado
da Segurança Pública (SSP). No dia seguinte, após ser cobrada a SSP informou
por e-mail enviado pela assessoria de imprensa que não iria comentar o tema e
que a resposta deveria ser obtida pela assessoria da PM. Mesmo após novas
cobranças da reportagem, ninguém se manifestou.