Disponível em: https://flitparalisante.wordpress.com/2012/11/05/atuais-ataques-do-pcc-nao-tem-data-para-acabar/
Acesso em: 05 nov. 2012
Atuais ataques do PCC não tem data para acabar
05/11/2012
Por que SP
chegou à atual situação?
Ao
contrário do que aconteceu em 2006, quando o PCC parou a cidade, os ataques do
crime organizado passaram a ser em conta-gotas
04 de
novembro de 2012 | 2h 01
BRUNO PAES
MANSO – O Estado de S.Paulo
Uma carta
escrita com bela caligrafia e repleta de erros de português era uma das peças
que faltavam para ajudar a compreender as causas da atual tensão vivida em São
Paulo e o crescimento dos assassinatos neste semestre. Apreendido em Paraisópolis,
na zona sul, o “salve geral” do Primeiro Comando da Capital (PCC) dava a “todos
os irmãos da rua” as ordens que deveriam seguir a partir de 8 de agosto.
O recado
era claro. Dois PMs deveriam ser executados para cada integrante do PCC morto.
A ação seria uma resposta “às execuções covardes feitas pela Polícia Militar”.
Segundo o “salve”, caberia ao “sintonia geral da quebrada” cobrar a “morte do
irmão” com a execução dos PMs “da mesma corporação” que cometesse “a covardia”.
A prisão de
Francisco Antônio Cesário da Silva, o Piauí, em 26 de agosto, líder da facção
em Paraisópolis, já havia revelado informação parecida aos homens das Rondas
Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) que o prenderam. “Vão morrer até os mamões
(policiais da reserva)”, ameaçou o criminoso ao ser detido, acrescentando que
ainda morreriam “dois botas (PMs)” para cada “irmão”.
Motivos.
Como o “salve geral” confirmou, os ataques a PMs haviam sido ordenados pelas
lideranças do PCC depois que mudanças na política de segurança pública, feitas
pelo atual secretário Antonio Ferreira Pinto, aumentaram a atuação dos
militares no combate à facção. Principalmente depois que os homens da Rota
passaram a ser mais atuantes.
Ferreira
Pinto assumiu a pasta da Segurança em 2009, em meio a uma crise de
credibilidade dos policiais civis. Escândalos impensáveis tinham sido
revelados, como o envolvimento de investigadores de Suzano com o sequestro do
enteado de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do PCC. O caso
aconteceu em 2005. Policiais civis pediram R$ 300 mil para soltar o jovem.
Marcola pagou, mas avisou que “não ia ficar barato”. O achaque foi considerado
um dos motivos para os ataques da facção no ano seguinte.
Quando
passou a comandar a segurança, Ferreira Pinto optou por usar a Polícia Militar,
corporação da qual havia sido oficial e em que mais confiava, para lidar com as
informações vindas dos grampos e do serviço de inteligência do Ministério
Público e da Secretaria de Administração Penitenciária. Os policiais civis
seriam postos de lado.
A
inteligência na investigação dos presídios tornou-se afiada e até
interceptações telefônicas de crimes em andamento começaram a cair no grampo.
Essas informações eram repassadas diretamente aos policiais militares,
resultando em uma série de conflitos e de vítimas nas ocorrências,
principalmente em supostas trocas de tiros com policiais da Rota.
No dia 28
de maio, por exemplo, três “boinas pretas” acabaram presos em flagrante
acusados de executar um homem que já estava detido. Ele tinha sido levado
depois de uma ação que causou a morte de outras cinco pessoas que participavam
de uma reunião perto da Favela de Tiquatira, na zona leste.
Dois dos
mortos na ação, José Arlindo e Júnior, eram figuras importantes do PCC em
Cidade Tiradentes, também na zona leste. Poucos dias depois, no começo do mês
de junho, a direção da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau apreendeu uma
carta escrita por Roberto Soriano, o Betinho Tiriça, com nomes dos três
integrantes da Rota acusados de matar a liderança do PCC.
Em agosto
de 2011, seis acusados de roubar um caixa eletrônico em Parada de Taipas, na
zona norte, já haviam sido mortos pela Rota. Em setembro deste ano, nove
pessoas morreram em Vargem Grande Paulista, depois de a Rota flagrar criminosos
no meio de um “tribunal do crime”, em que integrantes do PCC julgavam
informalmente um suposto estuprador.
O
secretário tentou remediar e as ações destrambelhadas dos homens da Rota
provocaram mudanças. Depois de apenas dez meses no cargo, Salvador Modesto
Madia foi substituído pelo tenente-coronel Nivaldo César Restivo, ajudante de
ordens do secretário e homem de sua extrema confiança. Ferreira queria saber de
tudo que ocorria na corporação, mas já era tarde. Os criminosos também pediam
sangue.
Futuro.
Apesar da ajuda prometida na quinta-feira pelo governo federal e da possível
parceria com o Estado, ainda é impossível prever os desdobramentos da violência
em São Paulo, já que a cabeça dos integrantes do PCC também é imprevisível. Até
ontem, 90 PMs já haviam sido mortos. Nos meses de setembro e outubro, os
homicídios dobraram em relação ao mesmo período do ano passado.
Na
periferia, a população passou a temer a Polícia Militar, suspeita de executar
pessoas que ficam à noite na rua em represália aos assassinatos de policiais.
Diversos boatos de toque de recolher se espalharam pelos quatro cantos da
Região Metropolitana. E, ao contrário do que aconteceu em 2006, os atentados
passaram a ser em conta-gotas. Diferentemente daquele ano, os atuais ataques
não parecem ter data para acabar.