22 de abr. de 2012

Policiais corruptos viram ‘consultores de risco’ do crime organizado em SP



ESTADÃO.COM.BR

Policiais corruptos viram ‘consultores de risco’ do crime organizado em SP

Investigações mostram PMs atuando como olheiros de quadrilhas especializadas em arrastão em condomínio e roubo de caixa eletrônico

21 de abril de 2012 | 23h 17

William Cardoso - O Estado de S.Paulo
O crime organizado criou um novo bico para os PMs de São Paulo: o de consultores de risco de ladrões. Nessa função, policiais fazem o papel de olheiros de quadrilhas especializadas em arrastões em condomínios e roubos de caixas eletrônicos. Usam o acesso aos equipamentos de rádio da PM para avisar os bandidos, por celular, quando algum policial fora do esquema se aproxima do prédio ou do banco durante a ação dos criminosos.

Neste ano, duas investigações já flagraram a participação de três policiais militares acusados de dar cobertura a ladrões durante os assaltos, mas existe a suspeita de que outros também estejam envolvidos. No ano passado, 20 PMs foram detidos por colaborar com quadrilhas que furtavam caixas eletrônicos - apenas dez continuam presos. "O crime está apelando cada vez mais para a informação e depende, também cada vez mais, das dicas de quem está por dentro. É necessário fortalecer os grupos que combatem o crime organizado dentro das instituições policiais", afirma o coordenador do Observatório de Segurança Pública da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Julio de Mesquita Filho, Luís Antônio Francisco de Souza.

Desde 2008, a PM tem usado rádios comunicadores digitais, que dificilmente seriam interceptados por ladrões. Por isso, as quadrilhas passaram a cooptar PMs corruptos, que os mantêm informados sobre a movimentação policial. São eles que avisam os ladrões quando o roubo é descoberto porque um vizinho ligou para o 190, por exemplo. Também avaliam os riscos de um assalto ser malsucedido e alertam sobre o patrulhamento na área do roubo. Um PM bem informado poupa o trabalho que caberia a pelo menos quatro bandidos: o de contenção durante uma fuga em que a polícia é alertada sobre a ação dos criminosos. Também sai mais barato, porque são três a menos para dividir o que foi roubado.

Em março, por exemplo, um protesto de professores nas proximidades do Palácio dos Bandeirantes deslocou o efetivo para o Morumbi e obrigou o PM envolvido com a quadrilha a sugerir, providencialmente, que os ladrões abortassem o assalto a uma residência porque a área estava cheia de viaturas.

Investigação. Neste ano, duas investigações levaram a PMs suspeitos de cooperar com quadrilhas. Na 5.ª Delegacia do Patrimônio do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), o cabo Dario Roberto do Carmo, do 26.º BPM, foi flagrado em escutas sugerindo a uma quadrilha o nome do soldado Alexandre Siqueira, do 45.º BPM, para um "bico" na Chácara Klabin. O trabalho era monitorar o arrastão em um prédio na Rua Pedro Pomponazzi, que terminou com a prisão de 15 pessoas em uma operação da Polícia Civil no dia 7, horas antes do assalto.