29 de abr. de 2012

Polícia está sobrecarregada em Bauru


dia a dia
23/04/2012 21:30

Polícia está sobrecarregada em Bauru

Déficit no número de policiais civis, militares e peritos é superior a cem profissionais. Veja relatos

Cristiano Pavini/Colaboração

Oficialmente, o discurso é de que o número de policiais em Bauru é adequado. Mas, assim que o repórter desliga o gravador e o assunto fica extra-oficial, o lamento de delegados, sargentos, investigadores, majores, escrivães e peritos fica evidente: faltam profissionais de segurança na cidade.

“Aqui não tiramos leite de pedra, porque seria pouco. O que fazemos é verdadeira mágica”, diz um dos escrivães do Plantão da Polícia Civil.

São apenas cinco escrivães no plantão, que se revezam em turnos de 12 horas para atender às ocorrências dos cidadãos e as apresentadas pelos Policiais Militares. Para conter a demanda, recebem ajuda de investigadores e podem trabalhar quase 24 horas seguidas.

Com a sobrecarga de trabalho, o nível de produção acaba reduzido. Em horários de pico e de troca de turno, o atendimento pode demorar. E muito.

“Já cheguei a esperar por dez horas para apresentar uma ocorrência”, diz um sargento da Polícia Militar.

A instituição, aliás, também sofre com a falta de efetivo. Levantamento do BOM DIA mostra que o deficit chega a até cinquenta PMs em Bauru.

Por questões de hierarquia, os comandantes não podem reclamar publicamente. Sob anonimato, lamentam o número reduzido de policiais. Mas ressaltam que a população não está sendo prejudicada. “Trabalhamos no sacrifício para garantir a segurança”, afirmam.

Apesar dos esforços, o número de furtos neste bimestre foi 41% maior do que no ano passado. Grande parte disso é culpa do crack, mas um policiamento ostensivo completo melhoraria a situação, dizem os oficiais.

O setor de investigação, de responsabilidade da Polícia Civil, também trabalha “na base da raça”, como resumiu um dos investigadores.

Segundo levantamento do BOM DIA junto à Seccional, é necessário contratar cerca de 60 policiais, principalmente investigadores e escrivães.

A DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Bauru, por exemplo, tem o mesmo número de funcionários da DIG de Botucatu, mas o nível de atendimento é três vezes maior.

A Dise (Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes) tem hoje seis investigadores, mas chega a trabalhar com quatro, pois há revezamento de férias, licenças ou cursos.

“O trabalho de investigação, com pesquisa em campo, escutas telefônicas, tomada de depoimentos, entre outros, precisa de um número maior de investigadores”, ressalta um dos profissionais ouvidos.

O delegado titular da Secccional de Bauru, Marcos Mourão, reconhece a falta de policiais, mas ressalta a eficiência da equipe de Bauru. “Mais de 80% dos crimes graves são solucionados”, diz ele.

O delegado seccional também adianta que haverá a junção das unidades policiais em um único espaço físico até o final do ano. “Isso irá otimizar nossos trabalhos”, garante.

Nem mesmo a polícia científica escapa do déficit. São 14 peritos atualmente, que respondem por 19 cidades, algumas a quase uma hora de distância. “Fazemos o impossível”, afirma um dos policiais.

O número de peritos era maior, mas seis deles aposentaram de uma só vez recentemente. A previsão é de que novos peritos sejam contratados até o final do ano.

Salário /Além da falta de pessoal, os policiais reclamam também do salário. No infográfico ao lado está a comparação com profissionais de Brasília, os mais bem pagos do país.

A PEC 300 (Projeto de Emenda a Constituição), pretende criar um piso nacional da profissão para acabar com as diferenças. Mas o projeto aguarda a votação no Congresso Nacional e enfrenta resistência dos governos estaduais e federais por conta dos gastos.

Resposta /A responsabilidade pela contratação de policiais e salários é do Governo Estadual. A Secretaria de Segurança Pública não respondeu os questionamentos sobre o déficit na cidade, apenas citou contratações a nível estadual e números da atuação das polícias civil e militar. A assessoria de imprensa da PM, em São Paulo, não respondeu os questionamentos até a noite desta segunda-feira.