"Eu trabalho como policial há 27 anos. Se eu for discutir JORNALISMO com o Senhor, eu vou perder. Mas de POLÍCIA eu entendo.
Não nasci Delegado Geral.
Não nasci Delegado Geral.
Delegado-geral
de SP: “Quem diz que menor não sabe o que faz é hipócrita”
Novo chefe da
Polícia Civil, Youssef Abou Chahin, diz que menores têm licença para matar
AFONSO
BENITES São Paulo 18 ENE
2015 - 21:00 BRST
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A tropa de choque do governador Geraldo Alckmin
(PSDB-SP) que atua por mudanças na legislação de crianças e adolescentes se
reforçou com o novo chefe da polícia Civil de São Paulo. Mal estreou no cargo
há dez dias, o delegado Youssef Abou Chahin, de 51 anos, já lançou contra os
adolescentes: “São como 007, têm licença para matar”.
Dez dias após a frase, criticada por entidades que
atuam na área de direitos humanos e da infância e juventude, Chahin mantém seu
posicionamento. Ele diz que, a longo prazo, a redução da maioridade penal
poderia até diminuir a criminalidade.
P. O
senhor mal chegou na chefia da Polícia Civil e já engrossa
o coro do governador Alckmin com relação à mudanças na lei
sobre a maioridade penal. Por qual razão defende a mudança na lei?
R. No
meu tempo de criança eu brincava de carrinho, jogava futebol. Hoje em dia uma
criança de três anos já sabe mexer no iPhone, com cinco já sabe tudo de
informática. Digo isso porque não dá para comparar a criança de 30, 40 anos
atrás com as de hoje. Não dá para dizer que as crianças e os adolescentes de
hoje não têm consciência, são todos inimputáveis. Quem defende a ideia de que
um menor de 16 anos, por exemplo, não sabe o que está fazendo, está sendo
hipócrita. Se você analisar nas ocorrências policiais, se em uma quadrilha há
um menor ele sempre será responsabilizado pelos atos mais graves do grupo.
Sempre foi ele quem atirou. Por que isso é feito, mesmo que não tenha sido ele
quem atirou? Porque a punição não existe.
Não dá para
dizer que as crianças e os adolescentes de hoje não têm consciência, são todos
inimputáveis.
P. Quando
o senhor tomou posse, disse que o menor de idade era como o 007, tinha licença
para matar.
R. Sim.
Foi uma frase forte e respeito os que discordam. Posso estar errado, mas isso é
o que a maioria da população acha. Uma pesquisa do Datafolha, de 2013, diz
que 93% da população é a favor da redução da maioridade,
eu estou com a maioria.
P. Como
o senhor vê as críticas? Várias entidades de direitos humanos reclamaram
de seu posicionamento enquanto chefe da polícia?
R. Vejo
com naturalidade. Cada um tem sua visão, eles têm as deles e eu tenho a minha.
Eu trabalho como policial há 27 anos. Se eu for discutir jornalismo com o
senhor, eu vou perder. Mas de polícia eu entendo. Não nasci delegado-geral
sentado em um gabinete. Fiquei muito tempo na rua. Dei plantão, fui delegado de
polícia no Garra, no DEIC no Grupo de Operações Especiais. Na minha carreira,
eu vi tudo. É como um médico que deu plantão no Hospital das Clínicas. Eu falo
pela minha experiência. Agora, essas ONGs têm as experiências delas e eu
respeito.
O delegado Youssef Chahin, no dia 5. /R. PANEGHINE (SSP-SP)
P. Em
que momento o senhor percebeu que cresceu a participação dos jovens no crime?
R. Quando
eles perceberam que a pena era ínfima. Não me recordo o ano preciso, mas sei
que há muito tempo percebemos a ação de menores em quadrilha, principalmente
quando há a morte da vítima do crime.
P. Mas
o ideal não seria ressocializar esse jovem e punir o adulto que
o incluiu no bando?
R. Mas
isso já ocorre. Nossa lei já prevê a corrupção de menores e a punição por esse
crime deveria ser mais dura, assim como por outros. A nossa Lei de Execuções
Penais deveria ser revisada. Cumprir apenas um sexto da pena não educa ninguém.
Tem muita coisa que precisa ser feita com relação à legislação. Em nível
policial, também e tem sido feito. A legislação mais rígida ajudaria não só a
polícia, mas também o Judiciário. O juiz não solta criminosos, ele cumpre a
lei.
P. Essa
de declaração do senhor sobre a redução da maioridade penal é sua ou foi um
recado dado pelo governador Geraldo Alckmin?
R. Tenho
personalidade. Eu falo o que eu acho. Pelo que sei o governador compactua da
mesma opinião, tanto é que apresentou um projeto no Congresso Nacional. Não
estou falando em nome do governo, nem da polícia. Quem está falando é o Youssef
Chahin. Falo baseado na minha experiência e nas últimas pesquisas que vi. Falo
também visando que o trabalho policial tenha resultados melhores.
Quando esses adolescentes perceberem que a cadeia
que eles vão pegar é a mesma do adulto, vão começar a não aceitar determinadas
empreitadas, não vão mais cometer tantos crimes.
P. O
Estado tem enfrentado seguidos aumentos de roubos. O senhor acha que a redução
da maioridade penal deve diminuir os índices criminais?
R. Talvez
não em um primeiro momento. Mas, depois, sim. Quando esses adolescentes
perceberem que a cadeia (a punição) que eles vão pegar é a mesma do adulto, vão
começar a não aceitar determinadas empreitadas, não vão mais cometer tantos
crimes. Aí ajuda a reduzir a criminalidade.
P. Em
2007, quando assumiu o Departamento de Investigações Contra o Crime Organizado,
o DEIC (em 2007), o senhor era sócio da empresa de segurança privada Oregon,
algo que não pode ser questionado do ponto de vista ético, já que o senhor é um
policial. Como está isso hoje, o senhor está no comando dessa empresa?
R. Não
tenho participação. Fui sócio-cotista de uma empresa que fazia projetos de
segurança, não era gerente, não estava na linha de frente, e isso a lei
permite. Não tinha participação só nessa empresa. Tenho empresas de família. Eu
entrei na polícia porque eu gosto do que eu faço. Meu pai era empresário. Eu
não precisava entrar na polícia para viver. Quando prestei concurso não exigia
atestado de pobreza. Para você ter uma ideia, eu fui voluntário para o Exército
por três anos. Sou instrutor de tiros, de gerenciamento de crise, fiz cursos na
Swat, a minha vida é a polícia. E ainda te cito uma metáfora. Uma vez um
empresário muito rico, vendo a Madre Teresa de Calcutá fazendo curativos em
leprosos ele disse: “Nossa, Madre, eu não faria isso por dinheiro nenhum”. E
ela respondeu: “Nem eu”. Eu gosto do que faço, sou vocacionado. Mas não vivo de
polícia.
Só 0,5% dos adolescentes presos cometeu crime
contra a vida
A. BENITES
Os
últimos levantamentos do Conselho Nacional de Justiça mostram que uma redução
da maioridade penal não deve interferir diretamente na diminuição da
criminalidade. Cerca de 0,9% das pessoas que cumprem penas por crimes têm menos
de 18 anos de idade. A maioria desses jovens foi detida por roubo ou tráfico de
drogas (85% deles). Menos de 0,5% cometeu crimes contra a vida, como homicídio
ou latrocínio (assassinato após um roubo).
Nesse cenário, ONGs que atuam na área da infância e juventude estão
tentando desmobilizar as dezenas de projetos que tramitam no Congresso Nacional
que preveem a mudança legislativa. Essas organizações argumentam que a
maioridade penal é uma cláusula pétrea na Constituição Federal, que os jovens
são mais vítimas do que autores de crimes e que o sistema carcerário não
consegue ressocializar os adultos e, portanto, não conseguiria fazer o mesmo
com os jovens. Um levantamento da Unicef mostra que 60% dos presos regressam
aos presídios anos após terem cometido o primeiro crime.
Haveria outro problema, em caso que a
redução da maioridade penal fosse aprovada: as prisões brasileiras estão
superlotadas. Faltam 257.000 vagas, conforme os últimos dados
do Departamento Penitenciário Nacional.