Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gilbertodimenstein/1126760-se-fossemos-civilizados.shtml
Acesso em: 28.07.2012
FOLHA DE S. PAULO
27/07/2012 - 07h58
Se fôssemos civilizados...
Se fôssemos civilizados e não estivéssemos tão acostumados com a
barbárie, os recentes indicadores de violência na cidade de São Paulo teriam
provocado uma comoção tremenda, a ponto de ameaçar a reeleição do governador, a
demissão do secretário de Segurança, a responsabilização, pelo menos, em parte,
do prefeito, e, enfim, duros ataques ao governo federal. Ninguém ficaria fora
do ataque.
Afinal, pagamos quatros meses por ano de nossos salários apenas para
manter os governos --e o mínimo que se pode exigir é não ter medo de andar nas
ruas.
A violência é um problema com múltiplas causas. Exige, portanto, a
articulação de esforços estaduais, federais e municipais, além da participação
comunitária.
O que deveríamos estar agora vendo se fôssemos civilizados era a
montagem de um mutirão envolvendo todos os níveis de governo e a sociedade. O
que vemos é uma troca de acusações.
Estaríamos vendo todos os candidatos a prefeito com alguma idéia, pelo
menos uma, sobre como uma cidade pode ajudar a reduzir a violência.
Não houve uma grande cidade em que se enfrentou com sucesso a violência
em que o prefeito estivesse à margem. Pelo contrário.
Estamos pagando o preço da maior das nossas incivilidades: não há
polícia que baste quando a educação pública joga o jovem na rua, acolhido pelos
delinqüentes, que lhe oferecem sua escola. Gostaria de ouvir dos candidatos um
projeto de educação em tempo integral nas comunidades mais pobres.
Isso é o que se espera se fôssemos civilizados.
Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a
jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca
Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela
Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.