7 de abr. de 2011

A reengenharia da Polícia Civil

FONTE: Matéria Publicada no Jornal “O Imparcial” de Presidente Prudente na quarta-feira, dia 6 de abril de 2011, pg. 4A

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A cidade de Pirassununga, a 206 quilômetros da Capital, 70 mil habitantes, é a vitrine da Secretaria de Segurança Pública para a reengenharia na Polícia Civil no Interior iniciada em 2010. O projeto consiste em juntar os distritos policiais em um mesmo local na tentativa de melhorar o desempenho nas investigações e no atendimento da população — uma espécie de Distrito Policial Integrado.


No caso de Pirassununga, os três distritos policiais da cidade trabalhavam separadamente, o que às vezes trazia confusão para a população, que não sabia onde se dirigir. Desde a fusão, acabaram-se as filas e o público é atendido em sala com ar condicionado e divisórias, em ambiente que não lembra o cenário carcomido que marca boa parte das delegacias de polícia. Os delegados se revezam nos trabalhos de atendimento e in-vestigações e a produtividade policial aumentou cerca de 10%, segundo dados oficiais da Secretaria.

Por enquanto, a ideia está restrita a nove municípios da região do Deinter-9, que tem sede em Piracicaba, nenhuma deles com mais de 200 mil habitantes. Dessa experiência sairá o modelo para a expansão que em princípio deverá atingir todo o Interior do Estado, exceto a Capital, Grande ABC e demais cidades da região metropolitana. “No Interior houve a criação de muitos distritos policiais sem critério algum”, diz o secretário Antonio Ferreira Pinto. “A reengenharia vai liberar policiais para a investigação, além da troca de informações de inteligência, aprimorando o trabalho da Polícia Civil com a Polícia Militar pela agilidade no atendimento dos plantões”

População reage

A visão é global. É o momento de melhorar a logística e concentrar esforços para obter mais resultados. Assim pensam e agem as grandes corporações globais. Mas a ação é local. O projeto de reengenharia vai depender por isso da realidade de cada cidade e da percepção de cada comunidade.

Em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, por exemplo, o delegado seccional quis acabar com o plantão noturno de Braz Cubas, um distrito com mais de 100 mil habitantes. Houve reação dos moradores e por isso decidiu promover revezamento entre delegados, que assumiriam conjuntamente dois distritos, Novamente a população não concordou. Vereadores foram até o secretário e houve recuo na ideia.

A fusão de distritos policiais foi abortada também em Sumaré, Americana e Hortolândia, após protestos de moradores temerosos de a população ficar mais exposta à criminalidade e forte oposição de políticos, em meados de 2010. À época, o delegado José Gregório Barreto, que participou dos estudos de integração em outras cidades, afirmou que há uma falsa sensação de quantidade de distritos é sinônimo de segurança. “A função do distrito não é impedir a prática do crime, mas investigar e descobrir quem o fez” afirmou ele ao jornal “O Liberal”, de Americana. “Com o município fracionado, o policial tem uma visão limitada do todo. E a criminalidade não se divide em distritos”, argumenta.

Esta semana, a coluna Contexto Paulista procurou o coordenador do projeto de reengenharia da Polícia Civil na Secretaria de Seciurança Pública. Valdir Assef. Dara saber sobre o andamento do projeto.

Em que consiste a reengenharia?

Tem a ver com a gestão dos recursos humanos e capacidade de investigação da Polícia Civil no Interior do Estado em cidades com mais de um distrito policial. A dispersão das equipes e a divisão do ambiente operacional resultaram em proliferação de distritos policiais e isso acabou prejudicando o trabalho da polícia investigativa. Esse é o diagnóstico.

O projeto é válido para todo tipo de cidade?

Não pensamos em tamanho de cidade. Pode ser tanto em cidades grandes como Jundiaí ou em pequenas com cerca de 25 mil habitantes, como Casa Branca, que tem quatro delegacias de de polícia. Cidades como uma delegacia de polícia apenas não são o nosso foco de atuação.

Como nasceu o projeto?

Delegados da região de Piracicaba há mais de seis au sete anos vêm promovendo na sociedade discussões sobre os malefícios da divisão e benefícios da integração. Esse grupo trouxe o projeto ao gabinete do secretário.

E nas cidades onde o projeto não foi aceito?

Não há fechamento de delegacias, mas de prédios, de endereços. Trabalhamos com a parte técnica e o convencimento da sociedade, como prefeito, vereadores, Ministério Público. Onde não conseguirmos eficácia nesse processo, não haverá implantação.

Em algumas dessas cidades, a população teme ficar desprotegida. Como o sr. vê isso?

No ano passado, tivemos a questão conjuntural das eleições e as iniciativas do poder público ficaram permeadas pela disputa ideológica ou partidária. E há também a sensação de insegurança, que é falsa. A Polícia Militar é que trabalha com a presença territorial, tem que estar presente no bairro, com fácil acesso. A Polícia Civil no passado acompanhou essa dinâmica, mas o nosso papel é investigar, e para isso precisamos de estrutura física e pessoal e analisar contextos mais amplos. Precisamos de menos gente na atividade burocrática e mais nas ruas para investigar, prender, atender ao público.
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••Esta coluna, publicada pela ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE JORNAIS,pode ser lida e atualizada em http://www.apj.inf.br/

Publicação simultânea nos jornais da Rede Paulista de Jornais, formada por este jornal e outros 13 líderes de circulação no Estado de São Paulo.